Um total de 340 imóveis dos bairros de Santana e do Limão, na zona norte, serão desapropriados pela Prefeitura para a construção de um complexo viário com dois túneis que ligará as Avenidas Cruzeiro do Sul e Engenheiro Caetano Álvares. Uma parte já foi desapropriada, mas a Prefeitura não informou o número de imóveis. Moradores se queixam que a administração não os avisou sobre o cronograma das desapropriações.
A medida está prevista no Estudo de Impactos Ambientais (EIA) e no Relatório de Impactos Ambientais (Rima) da obra. Por meio de sua assessoria, a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb) informou que notificará apenas os proprietários que ainda terão os imóveis desapropriados. Um decreto com os endereços deverá ser publicado no Diário Oficial da Cidade. A pasta afirma ainda que “não pode fornecer a localização dos imóveis”, pois “seria deselegante com os proprietários, que saberiam do assunto pelos jornais”.
Imóveis comerciais e residenciais estão na lista. Moradores de Santana dizem que as desapropriações já começaram na esquina da Rua Conselheiro Saraiva com a Avenida Cruzeiro do Sul e nas Ruas Bem-Vinda Aparecida de Abreu Leme, Perpétuo Júnior, José Debiex, Vitória Perpétuo, Dr. Zuquim e Dr. Artur Guimarães. “Já vi vizinhos que foram desapropriados e fiscais (da Prefeitura) fazendo medições no meu portão”, diz o encadernador Amilton Francisco de Souza, de 56 anos, morador da Perpétuo Júnior. “Só que não recebi aviso se serei ou não desapropriado. É ruim, porque a casa está à venda e não consigo comprador.”
Para João Crestana, presidente do sindicato da habitação de SP (Secovi SP), a incerteza da desapropriação atrapalha o mercado imobiliário. “Quando já existe uma definição detalhada, os efeitos da obra são visíveis. Mas enquanto existirem os boatos, o mercado se retrai. O grande problema é a incerteza, que impossibilita a quantificação do valor do imóvel e, assim, os negócios.”
A aposentada Valquíria Brito, de 64 anos, também encontra dificuldades para vender seu imóvel. Moradora da Vitória Perpétuo, onde a Prefeitura já desapropriou um terreno, ela diz que está há “alguns meses” tentando negociar sua casa. “Com essa dúvida ficou complicado de vender. Tem um monte de casa no bairro com placa de venda, mas falta interessado em arriscar.” A reportagem percorreu as oito vias com desapropriações indicadas pelos moradores e contou 13 imóveis à venda.
Sem data. O início da construção da ligação viária entre as Avenidas Cruzeiro do Sul e Engenheiro Caetano Álvares ainda não tem data definida. O projeto consta no Plano Diretor Estratégico da cidade, com previsão para conclusão em 2012.
Especialistas acham a obra benéfica para o viário da capital. “Não é uma solução estrutural da cidade, pois não tem continuidade. Mas é uma boa alternativa e deverá aliviar até mesmo o tráfego da Marginal do Tietê. Só acho lamentável o projeto não contemplar o transporte público, como (prever a construção de) um corredor exclusivo de ônibus”, diz Luiz Célio Bottura, consultor de transportes e ex-presidente da Dersa.
Orçada em pouco mais de R$ 337 milhões, a construção será executada pelo consórcio Carioca/CR Almeida. Serão feitas novas avenidas e dois túneis, um para cada sentido, com três faixas de rolamento para veículos, uma faixa exclusiva para bicicletas e calçada para pedestres. Somados, os túneis terão 760 metros de extensão. A CET estima que a passagem subterrânea receba 3 mil veículos por hora – no horário de pico do trânsito.
Uma das entradas do complexo viário será o entroncamento entre a Cruzeiro do Sul e a Rua Conselheiro Saraiva. A outra deverá ser construída na esquina entre a Avenida Engenheiro Caetano Álvares e a Rua Mateus Leme. Além de ligar a Cruzeiro do Sul e a Caetano Álvares, a nova avenida deverá aliviar o tráfego de veículos nas Ruas Voluntários da Pátria e Dr. Zuquim, hoje as principais vias de ligação entre Santana e o Mandaqui.
Fonte: O Estado de S. Paulo