Dar credibilidade às vertentes da música black no Brasil. Foi o desafio reafirmado no lançamento do primeiro festival “Black na Cena”, que ocupará a Arena Anhembi, em Santana, de 22 a 24 de julho reunindo 19 bandas, 9 DJs e grafiteiros. O evento contará com George Clinton – um dos grandes inovadores do funk ao lado de James Brown, que tocará no dia de seu aniversário de 70 anos – além de Sandra de Sá, Marcelo Yuka, Racionais MCs, Xis, Redman, Public Enemy, O Baile do Simonal e o rapper Thaíde. Outras dez bandas serão anunciadas ao longo do mês.
A produção investiu cerca de R$ 5 milhões no projeto até agora, que tem a expectativa de reunir 60 mil pessoas nos três dias de shows e ainda a intenção de percorrer outros Estados. “Vemos vários festivais de rock e reggae, e nunca um festival de música black, das vertentes da música afro, onde tem soul, samba rock, funk, hip hop, R&B”, disse Ricardo de Paula, diretor da Entre Produções, idealizadora do evento que conta também com a participação da Multvideo Produções.
“Muitas pessoas vão falar da sua vida, da sua história ou da história de alguém, ou simplesmente vão tocar um instrumento. E vão fazer isso com muita verdade, muita verdade mesmo”, afirmou Thaíde, ao comentar sobre o ponto de fusão entre o que ocorre nas ruas e a música, em entrevista coletiva realizada nesta terça-feira. “Qual artista não digeriu vertente africana na sua expressão, sendo na música ou nas artes plásticas? E que aqui no Brasil acho que a cultura negra está ligada a um certo posicionamento, às questões civis e sociais. Quando se fala em cultura negra também se fala em resistência”, disse Marcelo Yuka, em videoconferência.
“Comecei tocando músicas do Simonal, do George Clinton e James Brown”, lembrou o DJ Grand Master Ney, na área “só” desde 1977, e que estaria muito “nervoso” se não estivesse entre os DJs que entraram nessa parada. “A importância desse evento não está só na participação desse pessoal. O mais importante é poder contar a história da música negra. E não há nada que se faça na música atual que não tenha a influência de George Clinton e James Brown. E o Simonal foi um gênio brasileiro,” disse.
O rapper Xis, também na coletiva, lembrou que será a terceira vez que tocará no Anhembi, mas recorda, com desânimo, que há 11 anos tocou com a banda Naughty By Nature no mesmo local, reunindo mais de 20 mil pessoas e nem um notinha do evento saiu na imprensa. “Vai ser um momento histórico”, disse.
A importância desse evento é, também, revelada pelos artistas que, a princípio, não subirão ao palco. Na entrevista coletiva, repórteres lembraram que na lista dos artistas já divulgados estavam faltando, por exemplo, Elza Soares, Tony Tornado e Rappin Hood. Faltaria ainda muita gente: de Maceo Parker à Orquestra Rumpilezz.
Mas, como explica Thaíde, a esperança é que este não seja o último, mas o primeiro festival, com a expectativa de legitimar esse mercado em todo o País. “No Brasil é assim: a música negra brasileira agrada a maioria das pessoas, mas boa parte não assume isso, não sei por que. Com certeza esse evento vai dar credibilidade. Vão aparecer investidores para esse mercado, que é muito grande, muito lucrativo, mas que as empresas ainda não enxergam.”
Black na Cena – Arena Anhembi. Informações: blacknacena.com.br. Ingressos – zetks.com e cursinhos da Poli na Lapa, Itaquera e Santo Amaro. Preço: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (estudantes)
Programação
22/07 – 20h às 4h
– George Clinton, fundador do Parliament-Funkadelic
– Sandra de Sá
– O Baile do Simonal
23/07 – 14h às 4h
– Public Enemy
– Marcelo Yuka
– Xis
24/07 – 14h às 22h
– Redman
– Racionais MCs
– Thaíde
* Outras dez atrações serão anunciadas ao longo do mês
Fonte: Agência Estado