Foi-se o tempo em que um rosto feminino atrás do volante era sinônimo de sobriedade. São as mulheres que ilustram o grupo que mais cresceu entre os motoristas alcoolizados. Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mapeou o comportamento dos condutores antes e depois da lei seca. Foi constatado que, entre elas, o número de embriagadas dirigindo subiu 20% de 2007 para 2009. O aumento é um contraponto à redução geral do hábito de beber e dirigir que registrou queda de 32% no mesmo período.
Foram entrevistados 2.077 motoristas, entre 17 de abril e 23 de maio deste ano, nas proximidades da Vila Madalena, Itaim-Bibi, Interlagos, Tatuapé e Santana. Todos sopraram o bafômetro. Dos participantes, 16,6% apresentaram dosagem alcoólica superior ao permitido. Na pesquisa anterior, antes da lei seca, o índice havia sido de 24,5%. A redução é comemorada com cautela pelos especialistas. “Partimos de um patamar muito alto de consumo de álcool e direção, por isso há um entusiasmo diante da redução”, afirma o médico e coordenador da pesquisa, Ronaldo Laranjeira. “Mas ainda temos números cinco vezes maior do que em outros locais do mundo.”
Sobre o ponto frágil no recorde feminino, as mulheres, por sua vez, falam de uma “vantagem” na hora de ser selecionadas pela fiscalização. Quando a lei entrou em vigor, a Polícia Militar de São Paulo afirmou que o alvo das blitze eram homens, entre 18 e 24 anos. O perfil foi desenhado por coincidir com o público que mais aparece nas estatísticas de mortos em acidentes. “Já passei por várias blitze e cheguei a ser parada, mas não fiz teste de bafômetro”, diz a promotora publicitária Leila Chris. “Conversei normalmente com o guarda e ele notou que eu tinha condições, sem perguntar se tinha bebido. Sou a favor da lei, só acho que não há estrutura para uma regra assim. De madrugada, por exemplo, não tem ônibus para ir embora.”
Laranjeira alerta que se elas não entrarem de vez na fiscalização, a epidemia de mortes só vai mudar de gênero: do masculino para o feminino.
Fonte: Estadao